As décadas de 80 e 90 são lembradas como tempos de fracasso econômico do Brasil, a inflação corroia toda economia do país, ajudando o Brasil a parar no tempo em diversos setores da sociedade e ampliando o estado de miséria da maior da parte de sua população. O setor ferroviário que já era desprestigiado desde o final dos anos 50, quando o país passou a dar prioridade ao transporte rodoviário, teve seu desmazelamento acentuado agudamente.
Olhando em termos gerais, a ferrovia (de carga ou passageiros) sofria com o sucateamento de toda sua infraestrutura (provocando acidentes e outras anomalias), ramais desativados, serviços de média e longa distância encerrados, fora o excesso de lotação nos subúrbios das grandes capitais que tinham serviço de trem metropolitano. Em 1994, o Governo Federal que começava o processo de privatizações de várias estatais que estavam sob sua tutela, decide repassar aos estados do Rio de Janeiro e São Paulo os trens de subúrbio desses locais. No Rio de Janeiro é criada a Companhia Fluminense de Trens Urbanos – FLUMITRENS, seu período de operação é mais tenebroso do que os últimos dias de CBTU, os problemas recorrente a antiga administração pareciam aumentar quanticamente.
A Flumitrens não conseguiu estabelecer ordem e qualidade em seu serviço, sem falar que boa parte de sua verba mensal, proveniente da pasta de transportes, era onerada em 80% pelo quadro de funcionários da companhia, com isso o Governo do Rio de Janeiro não via a empresa com bons olhos e influenciado pelo Governo Federal, que tentava atrair os governos estaduais a se livrar de suas estatais por meio de repasses da União, decidiu privatizar à Flumitrens. Inicialmente, ninguém se interessou em assumir a operação dos trens de subúrbio, dado o sucateamento que estava entregue o sistema ferroviário. Para atrair interessados, o Governo Estadual criou o PET – Programa Estadual de Transporte, que iria se encarregar da reforma e modernizações de 50 composições, modernização de algumas estações e obras em outros pontos estratégicos da infraestrutura da malha ferroviária.
Em 1998, aconteceu uma nova tentativa de privatização da malha ferroviária, dessa vez foram reunidos grupos interessados e quem saiu vitorioso foi o consórcio Bolsa 2000, o qual arrematou o serviço de concessão por R$ 280 milhões (apenas R$ 30 milhões foram líquidos, o restante seria investido na recuperação do sistema). O Consórcio Bolsa 2000 criou a Supervia Trens Urbanos S.A., que iniciou sua operação em 1º de Novembro de 1998, pegando um sistema desacreditado e bastante sucateado. A Supervia conseguiu implementar um modelo mais responsável (com relação à sua antecessora) na sua operação dos trens urbanos e até certo ponto conseguiu ter o Governo Estadual comprometido em cumprir o PET, com a reforma e modernização de composições e assim ter acentuado acréscimo de trens na sua frota, podendo ter maior pontualidade nos horários e maior oferta à sua demanda de passageiros, que nos primeiros anos teve um bom crescimento.
No ano de 2006, a Supervia começava a receber os primeiros trens de um total de 20, importadas da Coréia do Sul, algo que não acontecia desde 1982. A partir daquele ano, outra diretoria assumiria a frente da empresa, que até aquele período havia ganhado prêmios na área de transporte ferroviário de subúrbios (denotando um trabalho respeitável até ali), mas que começaria uma fase onde o lucro estaria à frente da vontade de prestar um serviço qualificado à população. Com investimentos reduzidos em manutenção da frota e infraestrutura de sua malha de operação, os atrasos e superlotamentos voltavam a ser mais recorrentes e agravados, o que culminaria no acidente de Austin em 2007, no motim do Ramal de Japeri em 2009 e ainda ao episódio do trem fantasma em 2010. Ainda no ano de 2010 a concessão seria estendida até 2048, mas o que impactaria numa esperança real de melhora do serviço seria a venda da Supervia para o grupo Odebrecht.
Com a passagem do controle da empresa à Odebrecht e num cenário onde o Rio de Janeiro passa a ser sede de Olimpíadas e Copa do Mundo, sendo um grande recebedor de recursos para melhoria de sua infraestrutura de transporte, começa-se a vislumbrar o sonho de um sistema de trens de subúrbios eficiente. Um dos primeiros passos dados em conjunto do Governo Estadual com a Supervia é a compra de 30 composições importadas da China, mas nos próximos 4 anos, espera-se que toda a frota venha a ser renovada. Aliado a isso tudo, medidas como novo sistema de sinalização, modernização de todas as estações do sistema, duplicação do trecho Gramacho/Saracuruna, reativação do Ramal Itaguaí e a criação de mais duas estações são compromissos do estado e da nova administração da Supervia, a qual esperamos que venha trazer um novo rumo para o trem fluminense.
MUITO INTERESSANTE !